Bem-vindos ao tribunal da quinta-feira

“Mesmo que você resolva escrever de maneira simples, à la Hemingway, a missão continua sendo a de garantir nuance, elucidar a complicação, sugerir a contradição. E não apagar a contradição, não negar a contradição, mas sim ver onde, no interior da contradição, se encontra o ser humano atormentado. Levar em conta o caos, garantir que ele se manifeste. […] De outro modo você só faz propaganda, se não de um partido político, de um movimento político, então propaganda cretina da vida em si mesma, da vida como ela gostaria de ser divulgada.”
— Philip Roth em Casei com um comunista

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tribunalquintafeira

“Bem-vindos ao tribunal. A audiência pode tomar seus assentos neste bonito dia de 2016.” Quem faz o convite é José Victor, um publicitário de 43 anos que ocupa, inicialmente, o banco dos réus. Ao instar o leitor a acompanhar o andamento do caso, o narrador deste novo romance de Michel Laub sabe que aquilo que oferece não é apenas o assento destinado ao público, mas também, e principalmente, o da acusação.

Numa tarde de domingo, José Victor tem a conta de e-mail invadida por ninguém menos que a ex-mulher. O que ela encontra — piadas toscas compartilhadas com o amigo Walter, em meio às quais há uma confissão de infidelidade — a deixa chocada. Numa mistura de indignação e vontade de vingança, ela copia meia dúzia de mensagens e as envia para alguns contatos. Quando o conteúdo vaza, o tribunal está armado. Estamos “no presente eterno do espaço virtual”, um “tempo em que não apenas celebridades podem ter a vida íntima exposta para as massas”.

José Victor e Walter, também publicitário, se conheceram ainda na faculdade. Ao longo dos anos, os dois desenvolveram uma linguagem privada, “sendo impossível a qualquer um de fora entender o contexto em que aquelas expressões foram usadas”. As expressões a que ele se refere não são exatamente doces. Walter, homossexual e soropositivo, tem o hábito de transformar a autoironia na caricatura mais grosseira. Aquilo que de início era apenas a maneira que Walter adotou para enfrentar a realidade — abrir mão de qualquer tipo de sentimentalismo em nome de um humor feroz, o que constituiu uma proteção contra as dificuldades que se impuseram desde cedo —, se transforma na substância da interação entre os amigos.

Ao narrar tanto os acontecimentos dos últimos meses quanto os de um passado mais distante, José Victor eventualmente se dirige “à audiência” ou “à plateia do tribunal”, que ele distingue do coletivo que denomina “a acusação” — é uma diferenciação sutil entre quem julga e quem, embora atento a todos os movimentos, se limita a assistir sem emitir opinião. Por mais que José Victor reitere o quanto valoriza o humor, seu relato dificilmente assume um caráter abertamente cômico: nem a acusação e nem a audiência o deixam confortável, e, como o leitor pode perceber, José Victor frequentemente refreia o impulso de fazer graça. Mesmo a frustração e a raiva, que ocasionalmente tentam romper a falsa placidez do narrador, são logo contidas. José Victor surge ora defensivo, ora a ponto (mas só a ponto) de soar exasperado. Ele deve calibrar não a honestidade, que é brutal, mas aquilo que entrega e o que deixa de fora.

Na realidade, uma narrativa apresentada diante de um tribunal — ou, o que dá na mesma, a interpretação de uma narrativa por um tribunal — não deixa espaço para contradições, ambiguidades, imprecisões, hesitações. O relato de quem se justifica deve ser coerente, resultando em uma condenação ou em uma absolvição, e tudo, da frase inócua à interjeição inofensiva, pode ser usado contra o réu. É, portanto, uma linguagem distinta da linguagem literária, que se apoia em toda sorte de nuances a fim de ressaltar a complexidade de uma situação. Um dos méritos de O tribunal da quinta-feira é conciliar as duas coisas, fazendo de uma espécie de depoimento um romance cheio de ambivalências.

Em certo sentido, O tribunal da quinta-feira se sobressai tanto como um romance sobre culpa e puritanismo quanto como um romance sobre diferentes registros de linguagem. Uma delas, a linguagem das redes sociais, é a ferramenta utilizada no linchamento do protagonista — que precisa lidar com as consequências das próprias ações e as consequências do vazamento das mensagens, que estão, naturalmente, interligadas. Outra, a linguagem publicitária, é a ferramenta de trabalho do narrador. Nas campanhas que costuma criar, José Victor entrega o tipo de platitude que David Foster Wallace —, num estilo maximalista totalmente oposto ao de Laub — explora em Graça infinita. Se o norte-americano preferiu investigar aquilo que os clichês, incluindo os da publicidade, contêm de verdade, Laub prefere expor o que há de falso, além de risível, em uma retórica cujo objetivo é consolar e infantilizar.

Nessa paródia da linguagem publicitária, Laub resgata o já clássico bordão que pede ao leitor ou ao ouvinte que “use filtro solar”. Na brincadeira de José Victor, o eu do futuro tenta impedir o eu do passado de cometer determinados erros. A ideia de culpa é, talvez, a mais forte do livro. Para Nietzsche, a necessidade de um relato de si surge somente depois de uma acusação, de modo que todo relato dessa espécie não é nada além de um relato de justificativa ou de penitência, motivado, na maioria dos casos, mais pelo medo do que pelo arrependimento. A explicação diante do outro — diante de um tribunal que, embora não seja oficial, não é tão simbólico assim — só não é mais penosa do que a explicação que José Victor deve a si mesmo, na qual o eu do passado surge, envergonhado e culpado, diante do eu do presente. É ele, enfim, o seu pior juiz, mas apenas porque fez mal também a si mesmo. José Victor, cuja postura diante da acusação e da audiência não varia significativamente ao longo do relato, passa a encarar os próprios erros de forma mais branda. Só uma coisa o consola, uma pergunta que o narrador não chega a fazer diretamente, mas que ecoa a partir da metade do relato: e por que eu escaparia?

Por fim, há a linguagem de cunho sexual compartilhada por José Victor e pela namorada de vinte anos — uma linguagem que, como as tiradas de gosto duvidoso que o protagonista direciona a Walter, não fazem (e nem devem fazer) sentido fora da esfera privada. É essencial que seja o sexo, motor de boa parte das ações impensadas, a estar no centro de um livro sobre culpa e puritanismo. Tomando emprestada uma expressão de Caio Fernando Abreu, José Victor vê o corpo como o “irmão burro”, num curioso (mas enganoso) dualismo, como se a mente não estivesse inserida justamente na extensão que critica. Para José Victor, a atividade do corpo, “feito de células e nervos” seria independente da história. Ele está, porém, sujeito a ela. Está implicado em uma temporalidade, inseparável das condições de seu surgimento, sabe que sua ação não pode partir ou ecoar no vazio.

Nenhum de nós, se vistos com todas as nossas mesquinharias e erros e defeitos, passaria incólume por um linchamento nos moldes daquele de que José Victor é vítima. Nessa série de tribunais com altíssima rotatividade das posições, não é difícil, porém, encontrar candidatos a ocupar o lugar da acusação. Padecemos do que o escritor norte-americano Philip Roth chamou, no ótimo A marca humana, de “o êxtase da santimônia”. Na ocasião que Roth descreve, “os moralistas espalhafatosos de plantão, loucos para acusar, deplorar e punir, eram onipresentes, cada um querendo ser mais indignado que o outro: todos eles num frenesi calculado, possuídos por aquilo que foi identificado por Hawthorne […] como ‘o espírito da perseguição’”.

Roth escreveu A marca humana após o escândalo de Bill Clinton e Monica Lewinsky, que sacudiu os Estados Unidos no final do século XX. “Não, se você não viveu 1998, você não sabe o que é santimônia”, escreve Roth. É provável que o cenário seja, hoje, ainda mais desolador; Roth, avesso à tecnologia, não poderia prever o que viria a seguir. Agora, a praça pública e a fogueira têm lugar na internet. Nesse sentido, O tribunal da quinta-feira é tanto mais interessante (e arriscado) por espelhar e escarnecer de um tempo em que mesmo a literatura é autorizada e avaliada a partir da lógica que resultou no linchamento de José Victor.

Há outra passagem esclarecedora em A marca humana. Nela, Coleman Silk analisa um jovem advogado a quem foi pedir conselhos jurídicos. A mesa de trabalho do sujeito, chamado Nelson Primus, era “a própria concretização da tábula rasa”, numa referência irônica a John Locke. Não há desordem, não há sujeira, não há qualquer objeto destoante. Primus se dirige a Coleman Silk com extrema condescendência, como se Silk — culpado de iniciar um caso com uma mulher muito mais jovem — não fosse um homem maduro capaz de fazer as próprias escolhas, mas um velho senil que devesse ser orientado e, se possível, contido. Nelson, analisa Coleman, não demonstrava “nem fraqueza de caráter, nem ideias extremadas, nem compulsões imprudentes, nem mesmo a possibilidade de erros involuntários, nada de mau escondido que pudesse vir à tona”. A despeito da juventude, ou mesmo graças a ela, Primus foi tocado pela santimônia.

“Modo ou aparência de santo” é como o Aurélio define a santimônia. Ser tocado pela santimônia, seja de forma permanente ou temporária, é ganhar o superpoder de ressaltar a própria virtude às custas dos possíveis erros alheios. Quando o sujeito tocado pela santimônia discursa, é invariavelmente sofista: parece apontar para o bem comum, mas a retórica aponta para o próprio umbigo imaculado. No geral, a construção das frases segue um padrão conhecido: o nós (a que ele não pertence) é substituído pelo vocês ou o eles (a ralé equivocada). Quem é tocado pela santimônia gosta de detectar e apontar a fraqueza, mas ao exercício nunca se sucede o reconhecimento de que todos estamos sujeitos a cometer esse ou aquele deslize, com ou sem intenção, de forma mais ou menos estúpida. A correção não é um trabalho contínuo e sujeito às mil e uma armadilhas da vaidade, da pressa, do cansaço, da burrice, mas uma característica que o portador da santimônia compartilha com uns poucos afortunados. As situações não têm o direito de parecer obscuras ou incompreensíveis, mas são, ao contrário, claríssimas, e o assassino é o mordomo. Por fim, a santimônia não vê problema algum, ou contradição alguma, em linchar.

Nas mãos de um autor ligeiramente menos habilidoso, um tantinho mais afoito ou menos metódico, a tentativa de unir todos os temas contidos em O tribunal da quinta-feira seria, na melhor das hipóteses, tremendamente forçada. O resultado, porém, é o oposto disso. É a combinação do controle/domínio total da narrativa — cujo resultado está longe de soar esquemático — com uma temática explosiva que garante o efeito poderoso do livro. A confissão de José Victor, entremeada por alguns e-mails trocados com Walter e por algumas das mensagens de ódio direcionadas a ambos, é extremamente fluida. É notável a habilidade de Laub de ir e vir no tempo, ao sabor das conexões aparentemente inconscientes do narrador, numa associação livre na qual o leitor não sabe bem o que conduz ao quê. O leitor é, ao contrário, conduzido.

Este tem sido um grande ano para a literatura brasileira. Bernardo Carvalho e Daniel Galera lançaram bons livros, que não estão, porém, entre os melhores que já escreveram. Michel Laub, ao contrário, se junta a Elvira Vigna (Como se estivéssemos em palimpsesto de putas) ao lançar aquele que é, até agora, o grande destaque de uma carreira já consolidada. Em vários sentidos, O tribunal da quinta-feira é um divisor de águas numa trajetória até então coerente e, por isso mesmo, mais ou menos retilínea. Diário da queda, o trabalho mais conhecido do autor, é tanto um ótimo livro quanto um ótimo livro excessivamente contido. A narrativa de A maçã envenenada eleva o tom, anunciando o que poderia vir a seguir. Laub finalmente assume riscos, e prova que a força de sua escrita, assim como a de Roth — cujos melhores protagonistas não valem, juntos, um centavo, mas que têm o dom de colocar o dedo na ferida mais feia e mais dolorida —, é proporcional à honestidade e à insolência, mas também à perspicácia do narrador.

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Alguns dos argumentos desta resenha foram decalcados de Relatar a si mesmo, de Judith Butler (Autêntica, tradução de Rogério Bettoni)

 

21 Comments Bem-vindos ao tribunal da quinta-feira

  1. Simone Mello

    Camila, seu trabalho de crítica está melhor a cada leitura, este texto está simplesmente maravilhoso! Obrigada!
    Li todos os livros do Michel Laub e de longe O tribunal da quinta-feira é o melhor de todos. Espero que não demorem a lançar o próximo, ele é meu escritor brasileiro favorito. Por fim, quase morri quando li a contracapa!!!!!

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  2. Yuri Pires

    O tribunal da quinta-feira é um livro crescentemente incômodo. Ao passo que a leitura avança, o leitor ou leitora ora se identifica em José Victor, ora se identifica nos que o acusam, e o remoer da culpa pelo protagonista apenas aumenta essa agonia: ao final do livro, percebemos que durante toda a leitura, agimos como juízes (eu, por exemplo, passei o livro inteiro me questionando se não se tratava de um narrador não confiável, aos moldes de Paulo Honório ou Humbert Humbert).

    Concordo integralmente com a tua leitura, inclusive com a afirmação de que este é o melhor livro de Laub. 2016, apesar de toda essa loucura em que o Brasil se encontra (ou justamente por causa dela?) foi um ano excelente para a literatura. Vigna (Como se estivéssemos em palimpsesto de putas), Galera (Meia-noite e vinte), Lísias (A vista particular), José Luiz Passos (O marechal de costas), Carvalho (Simpatia pelo demônio) e este de Laub, tudo muito bom.

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    1. Camila von Holdefer

      Concordo, Yuri: também mudei de posição várias vezes ao longo da leitura. Esse é um dos pontos fortes do romance, na minha opinião: permitir que o observador ocupe diferentes posições. Ainda preciso ler o livro do Ricardo Lísias, mas concordo que 2016 tem sido um grande ano para a literatura brasileira.

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  3. Caio Lima

    Excelente resenha. Tão boa que fui procurar o livro logo após ter lido. Esse foi meu primeiro Laub, apesar de já me recomendarem a leitura há tempos (e eu postergar por pura preguiça). Uma coisa que me chamou muito atenção é que, além da culpa e das viagens no tempo serem muito articuladas e fluidas, surge um sentimento de cansaço tão grande quanto o de culpa; e a minha identificação com esse cansaço fez com que eu não trocasse tanto de lugar a partir de um certo momento do livro. Senti que nesses 4 dias entre a invasão do e-mail e a quinta-feira derradeira houvesse decorrido um mês inteiro, tamanha é a velocidade com que as coisas acontecem, o que é bem essa realidade virtual que vivemos (o que me tira boa parte da paciência, admito). Ter que conviver com as constantes cobranças, ameaças e a necessidade de ter que se explicar toda hora por qualquer coisa nesse sem-número de juízes é de encher o saco de qualquer um.

    Um livro que quebra bastante paradigmas por aqui. Excelente mesmo! Muito obrigado por mais uma ótima resenha e por ter me levado a esse livrão!

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    1. Camila von Holdefer

      Obrigada pela leitura e pelo comentário, Caio. Gostei muito da sua ideia de passagem do tempo dentro do romance. Concordo com você: é como se houvesse transcorrido muito mais do que aqueles poucos dias.

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  4. Larissa

    Camila,

    Sempre tive muita resistência em ler livros contemporâneos. Acho que era um certo medo de eu ter que criticar. Desse forma, me apegava aos consolidados clássicos, que já tinham vasta crítica e, dessa forma, a chance de me decepcionar era mínima (fora o dispêndio de tempo). No entanto, em 2016 resolvi fazer diferente e conhecer o que de atual tem se produzido no país. Não me arrependo. Acho que dei muita sorte em ter me feito essa proposta em 2016. Li tanta coisa boa, coroadas com esse excelente livro do Laub ao fim do ano. Gostei tanto que, na minha insegurança, vim procurar críticas sobre ele. Já te acompanho há um tempo no Facebook e vi que vc tinha publicado essa resenha! Ótimo texto, concordei contigo em diversos pontos. Enfim, termino o ano satisfeita e convencida de que continuarei a ler os lançamentos de 2017! E, claro, acompanhar suas resenhas! 🙂

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    1. Camila von Holdefer

      Muito obrigada pela leitura, Larissa. Fico feliz que você tenha descoberto bons autores contemporâneos. Eles são ótimos justamente por aquilo que o livro do Laub faz: discutir algo revelante e atual. De certa forma (mas posso estar errada), acho que os livros contemporâneos nos fazem querer conversar com outras pessoas que também os leram, enquanto os clássicos não nos motivam tanto nesse sentido. Acho ótimo que alguém também tenha lido e goste de “Moby Dick” ou “Dom Quixote”, mas não sinto aquela necessidade de discutir com pessoas próximas tanto quanto sinto com um livro atual. 🙂 Não sei se isso se deve aos anos e anos de interpretações acumuladas sobre os clássicos, que tiram um pouco do frescor de qualquer olhar, ou se tem a ver com a própria temática dos livros contemporâneos. Ótimo 2017 para você!

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  5. Livia

    Novamente um ótimo texto Camila! Esse é mesmo um grande livro de nossa época. Fiquei pensando que é muitíssimo acertado Michel Laub criar José Victor como um publicitário nessa narrativa que gravita tanto em torno de imagens escatológicas. Há o sangue da AIDS, o cu, as fibras, a massa fecal, etc. E a publicidade é esse universo tão falsamente limpo… Não tem nada fora do lugar no livro. Um bjo

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    1. Hugo César

      ó, Lívia, imagina uma tortura que fosse o avesso do Laranja Mecânica: uma pessoa amarrada numa cadeira assistindo vídeos publicitários em looping. Acho que nem precisaria do colírio para provocar enjoo. Que tipo de ser humano seria produzido, hein? Haveria potência recalcada para um novo Big Bang de merda e pus.

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  6. Renato

    Desde o diário da queda que fico assombrado com Laub. E esse jeito de pêndulo em quente desenvolve a narrativa. É como você falou, Camila: o leitor é conduzido, (e acrescento) de um extremo a outro, em uma virada de página que representa um salto de anos e o fio não se desgasta nunca. De tudo que se encontra na escrita de Laub o que mais me impressiona é isso: a maneira como o tempo estica, encolhe, salta e retorna. Como alguém disse num comentário anterior, o que acontece parece não caber no intervalo de dias em que a narrativa acontece. Que livro! Que baita livro!

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  7. Graça

    Oi, Camila!
    Estou por aqui, culpada também…
    Comprei o livro e ainda não foi possível começar a leitura.

    As observações da Lívia me fizeram relembrar um outro livro: Triângulo das Águas, de Caio Fernando Abreu, livro inesquecível e excelente.
    Parabéns pela crítica exuberante!!!!!!
    Obrigada.
    Beijos

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  8. Mick

    Sinceramente, fiquei muito decepcionado com esse livro.
    O protagonista se repete sem parar, o que eu achei que funcionou em Diário da Queda, mas que aqui foi só irritante. Ele também tenta o tempo todo colocar o lado dele, fazer um veja bem, que é cansativo.
    Sem falar que ele é um esquerdo-macho, que fala que podia fazer com a amante o que ele nunca nem tentou fazer com a mulher, que ridiculariza as amigas dela que o tratam de misógino, que trata a amante como se ela precisasse ser salvada – e ela mesma se sente tratada como incapaz.
    Nenhum personagem nesse romance é um pouquinho desenvolvido, bidimensional, são estereótipos – a mulher abandonada, o amigo gay com Aids mas rindo disso de um milhão de filmes e um episódio de house, a amante novinha moderninha mente-aberta que faz o que a esposa não faz, o babaca de meia idade.
    O tema do linchamento virtual mal começa a ser esboçado, porque o personagem fica se lamentando sem parar. Achei que poderia ser mais desenvolvido.
    Sem falar no Walter, que nunca pensou em dizer para alguém com quem ele transou sem camisinha que ele tem Aids? Sei que eles estão sendo assediados online por causa do tom dos comentários, mas que pessoas terríveis. Não é um comentário politicamente incorreto, é um crime.
    Não que eu ache que os protagonistas tem que ser modelos para o livro ser bom, Lolita está entre meus preferidos, mas eles precisam ser interessantes. Precisavam ser menos clichês para segurar a trama.

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