De uso comum: estações do ano, livros e certa música.
As chaves, as xícaras de chá, a cesta de pão, lençóis de linho e uma cama.
Um enxoval de palavras, de gestos, trazidos, utilizados, gastos.
Uma ordem doméstica respeitada. Dito. Feito. E sempre a mão estendida.
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Apaixonei-me por invernos, por um septeto vienense e por verões.
Por mapas, por um canto na montanha, por uma praia e por uma cama.
Mantive um culto a datas, declarei promessas irrevogáveis,
idolatrei um Algo e fui devota de um Nada,
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(— do jornal dobrado, das cinzas frias, do papel com uma anotação)
sem temer a religião, pois a igreja era essa cama.
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Minha inesgotável pintura surgiu de olhar o mar.
Da varanda devia saudar os povos, meus vizinhos.
Ao fogo da lareira, em segurança, meus cabelos tinham sua cor mais intensa.
A campainha da porta era o alarme para minha alegria.
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Não foste tu que perdi,
mas o mundo.
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O tempo adiado e outros poemas
Seleção e tradução de Claudia Cavalcanti
Editora Todavia